O movimento estudantil no Brasil passou por um longo momento de adormecimento. 2016, entretanto, trouxe consigo uma outra realidade. Talvez, entre os secundaristas, não houve mobilização tão grande quanto a do último semestre. Um retrato claro demonstra a dimensão da mobilização: mais de mil escolas e universidades ocupadas em todo o Brasil.
Esse período de luta e manifestação pelos investimentos nas áreas básicas de serviços públicos proporcionou-me uma experiência única. A Escola (seja a EAD ou qualquer outra instituição ocupada) se tornou palco da união estudantil, o espaço foi verdadeiramente apropriado, e o sentimento de pertencimento aumentado. Pude entender e exercitar cidadania de uma forma mais prática, as discussões, palestras e atos, plurais, dirigidos por nós estudantes e especialistas, proporcionaram-me mais conhecimento e voz. Saberes sobre questões da arquitetura e do urbanismo no campo político, técnicas de marcenaria, de croqui e de bioconstrução, ferramentas eletrônicas para criação de artes, dança e sobre música, além da intensa articulação entre diversas pessoas de diferentes áreas em prol de um bem comum, estiveram presentes no movimento e enriqueceram culturalmente os participantes.
O sentimento de pertencimento à Escola de Arquitetura, que outrora não existia em mim, veio à tona, e expandiu-se para além, alcançando a cidade, que, a partir de então, percebi ser, também, minha, e que devo vive-la. Embora, mesmo meio à essa riqueza, nasceram dissensões, todavia elas não são por natureza um problema, muito pelo contrário, são catalizadores de debates, de política, são responsáveis por criarem conversas que, à luz da racionalidade, e sob argumentos plausíveis, criam possíveis soluções para problemas da sociedade.